logo RCN
CAMPO & CIDADE

Abelhas do Amarildo - Onévio Zabot

  • - Onévio Zabot - Engenheiro agrônomo e servidor de carreira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Membro da Academia Joinvilense de Letras

Estávamos em visita técnica, acompanhava a colega, Agrônoma Dione Benevenutti da Epagri, na propriedade do Amarildo, estrada do Salto II, Joinville. Agricultor de nomeada - múltiplas aptidões -, ativo e bem sucedido, apegou-se, no entanto, gradativamente, a apicultura. Dedicara-se também à jardinagem e à produção de mudas, daí a coleção de plantas no sítio. E a grama-preta - tabuleiros a capricho, o carro-chefe. A família acompanhando-o, afazeres exaustivos, porém exitosos -, não há como negar. Pretende, no entanto, encerrar a atividade com ornamentais. - Pouco retorno e muito calote, alega.

As abelhas, sim, as abelhas o seduziram. Não por mero diletantismo, mas especialmente pelo retorno econômico. E, sobretudo, pelo trabalho gratificante. E também pela união dos apicultores e, participar de eventos técnicos: cambiar informações e confabulações. Atento, prescruta melhorias. Participa da APIVILLE (Associação dos Apicultores de Joinville). E não esconde a satisfação com isso.

Pretende ampliar não só as colmeias, mas também o plantio de árvores floríferas. Pasto apícola. E, aleatoriamente, as distribui plantando-as sítio afora. Aqui, ali e acolá formando renques e bosques. E, enfatiza com entusiasmo: - Quando menos se espera estão florindo. Festa certa para as abelhas.

A menina dos olhos, porém, estava à vista, um achado precioso: linhagem de eucalipto que praticamente mantem-se florida o ano todo. Reproduzi-lo por estaca, o desafio. Não bastaram os vídeos postados na internet. A baixa taxa de pega, como superá-la.

O apicultor por natureza do ofício, diferencia-se, percebe-se claramente. Amanhar abelhas. Captar a energia que emana delas, acompanhar a sua dança nas flores, vê-las locupletaram-se de pólen amarelo, asas carregadas e voar rumo a colmeia, eis um affaire instigante. Temos observadores de pássaros, por que não de abelhas, diria meu amigo Franklin, sempre à frente de seu tempo?!

Os cientistas da Universidade de Sussex - Reino Unido - descobriam que a dança das abelhas, é na verdade uma linguagem, revela informações precisas ao grupo sobre a distância e direção das floradas. Um oito repetido antes de entrar na colmeia, a senha. Comunicação primorosa. Sabedoria da natureza e das abelhas. Reconhecidamente as abelhas tem importância decisiva na polinização, em especial em lavouras e pomares. Aromas presentes nas flores as atraem. Sinergia perfeita. A natureza tem seus desígnios, obviamente.

As abelhas de ferrão ao mesmo tempo que podem ser doceis, se provocadas, defende-se agressivamente. Gregárias, seguem uma hierarquia irretocável. Por milhares de anos gerações sucedem-se caprichosamente. Rainha, a soberana, os zangões apenas reprodutores, e as operárias, estas seguram as pontas. O mel é iguaria citada e recitada ao longo da história. O profeta João Batista, ermitão que era, alimentava-se de gafanhotos e mel. Combinação perfeita: alto teor proteico e energia. O hidromel, bebida fermentada, tem tradição milenar. Prática adotada por praticamente todos os povos, inclusive no atual continente americano.

E há componentes nobres: geleia real, própolis, cera e o próprio pólen - poderosos imunizantes. Estudiosos dividem apicultura brasileira em cinco fases principais:

1) antes de 1840, somente as espécie indígenas; 2) de 1840 a 1880 com a introdução e expansão da Apis mellífera (abelha do reino ou abelha "europa" pelos imigrantes europeus no  sul do Brasil; 3) movimentos associativos e comercialização, de 1880 a 1940; 4) de 1950 a 1970, período de pesquisa, e introdução por acidente da abelha africana (Apis mellífera scutellata); 5) e de 1970 para cá com a juntada de esforços de apicultores, governo e pesquisadores. Parceria proveitosa.


Em Santa Catarina, Helmut Wiese, do Instituto de Apicultura (IASC), desenvolveu um intenso trabalho de capacitação, organização e fomento, tendo como âncora "Cidade das Abelhas", em Florianópolis. Organizados - apicultores e meliponicultores -, promovem eventos e trocam informações. Quanto à qualidade do mel catarinense, prêmios internacionais comprovam sobejamente. Avançam as exportações. Consolida-se o mercado interno.

Percebe-se isso na propriedade do Amarildo: unidade de processamento em fase final de construção. Quase pronta, portanto. Intuito: atender os requisitos sanitários. Segurança para o consumidor. Quanto a cultivar de eucalipto que floresce o ano todo, uma grata surpresa: trata- se provavelmente da espécie torelliana. Multiplicá-lo, a bola da vez. Amarildo, em caso de êxito, pretende disseminá-lo para os demais apicultores. Mas ressalta, apontando para a mata em torno: temos floradas de árvores nativas praticamente o ano todo. O eucalipto é mais um reforço. E que reforço!

Também fala com orgulho do melato de ingazeiro, e da Cassia mangiolo que produz na inserção da folha uma resina apreciada pelas abelhas. Enquanto conversamos, Amarildo alerta: - Podemos ficar a essa distância das colmeias - nos posicionamos frente a caixaria -, porque estão trabalhando, buscando pólen, caso contrário, nos atacariam. Forma de revidar invasores e predadores. Calças curtas e distraídos de plantão nunca faltam. Lidar com abelha exige profissionalismo, profissionalismo esse cada dia mais presente, pondera

Acertamos parceria: vamos propaga-lo, sim, o Eucaliptus torelliana. A natureza, certamente, vai nos agradecer com a presença de mais abelhas, e o consumidor com mel e iguarias de qualidade. Jogo do ganha-ganha. Melhor assim.

Joinville, 28 de agosto de 2021

Verde-Amarelo ao vivo - Roberto Dias Borba Anterior

Verde-Amarelo ao vivo - Roberto Dias Borba

Insistência até cavar o pênalti - Roberto Dias Borba Próximo

Insistência até cavar o pênalti - Roberto Dias Borba

Deixe seu comentário